Somente a verdade – Parte III

Somente a verdade – Parte III

Elias não disse nada por quase um minuto. O seu rosto estava retraído e preocupado. As narinas moviam-se para dentro e para fora no ritmo acelerado, pontuado, seguindo o movimento dos olhos, que fugiam do olhar inquiridor do irmão.

Pois bem, sou todo ouvidos, disse Samuel, com a voz baixa e monótona.

Fiz merda.

Samuel empertigou o corpo. As linhas do seu rosto se enrijeceram. Que tipo de merda?

Houve uma pausa.

Eu perdi o controle. Foi isso. Não ando bem da cabeça. Pensei que não fosse acontecer. Mas quando vi já era tarde demais.

Samuel voltou os olhos para o teto como quem apela aos céus e disse Por favor, diga que Sueli não está envolvida nisso.

Elias hesitou.

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Somente a verdade – Parte II

Somente a verdade – Parte II

Samuel entrou na oficina e pôs-se a olhar pela janela com o ar mais lúgubre deste mundo, como se nada estivesse à sua frente. Ficou parado diante dela por um longo período, avaliando, rememorando, acompanhando o som proveniente das palhas de milho que se mexiam e farfalhavam umas contra as outras, e da sonolenta e dissonante canção dos grilos e das cigarras.

Olhou para o relógio de pulso sem pensar, perdido em pensamentos. Eram quase cinco da tarde. Logo mais viria o crepúsculo, e então o sol cessaria o seu brilho e tudo ficaria no escuro mais uma vez…

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Somente a verdade – Parte 1

Somente a verdade

Eram quase cinco da tarde e não havia carros na pista. Ele manteve o olhar para frente e esticou o braço e girou o botão de sintonização, devagar, para um lado e para o outro, pensando: Quem terá sido esse J. Leal?

Passou por um matadouro em reforma e uma antiga fábrica de cimento. Quando avistou o posto de gasolina, reduziu a velocidade e estacionou a viatura ao lado da bomba e baixou os vidros e desligou o rádio. Quantos litros, Seu policial? perguntou o frentista de feições embezerradas e macacão verde.

Ele girou a chave de ignição e pôs fim ao ronronar do motor. Tenente, ele disse. Pode colocar 50.

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Algumas perguntas

Algumas perguntas

Eram três da tarde quando Samuel chegou em casa. Foi para o quarto, acendeu a luz, pegou o molho de chaves sobre a escrivaninha e abriu a gaveta e guardou o revólver e saiu.

Entrou na oficina e tirou a camisa de botão e a pôs no prego atrás da porta e vestiu o avental de couro. Abriu a janela de madeira e depois começou a preparar a fornalha e o fole. No canto da bancada, dentro de um embrulho feito com jornal, retirou um pedaço de ferro em forma de cano e pousou-o sobre a bigorna e começou a martelar, tilintar, martelar, tilintar.

Alguém passou pela janela fazendo sombra e disse Bom dia. Ele parou de martelar e, um pouco ofuscado pela luz encanecida, disse Bom dia. Rodeie, por favor. A porta está aberta.

O homem circundou a oficina e apareceu na porta e estendeu a mão e disse Bom dia, Seu…

Samuel.

Isso, Samuel. Desculpe-me. Tenente Chris Welber.

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