Resenha – Luz em Agosto – William Faulkner

Por José Eduardo Ribeiro Nascimento

Não há necessidade de comentar sobre a importância de Faulkner, e sobre o fascínio que ele provoca em Leonardo e Reinaldo, basta ler a ótima resenha de Leonardo sobre O Som e a Fúria, publicada ontem aqui no blog. Apesar de tudo isso, eu nunca havia lido nada de Faulkner, não por falta de vontade, mas por que sempre há muitos livros na fila de leitura, e sempre que leio um, acabo comprando mais dois (a frase não é tão exagerada assim…). Pois, para corrigir esse erro em minha vida literária, no fim de dezembro resolvemos que cada um escolheria 5 livros para que os outros lessem (recebi, portanto, duas listas de cinco livros cada), e um desses livros foi justamente Luz em Agosto; foi aí que tive a oportunidade/desculpa de ler esse grande livro, que já ganhou 3 resenhas aqui no blog (aqui, aqui e aqui).

Para quem não conhece, Faulkner tem a “mania” de usar metáforas belíssimas em seus livros. Quem quiser sentir um pouco dessa sabedoria é só abrir uma das resenhas anteriores que elas estão recheadas de citações. Ele é um autor para ser lido devagar, saboreando cada parágrafo, e, por que não, cada frase. Sua escrita não é apenas bonita, mas ela dá a impressão de ter sido montada, palavra por palavra, cada peça em seu devido lugar. Algumas vezes devemos parar e pensar um pouco sobre o que lemos, não apenas por que há passagens mais complicadas, e metáforas que nos fogem o significado, mas para tentar sentir um pouco mais da psicologia e do sentimento, muitas vezes contraditórios, que os personagens apresentam. Certa vez foi perguntado a Faulkner o que ele poderia dizer às pessoas que liam seus livros duas, três vezes e não entendiam. Leiam uma quarta vez, foi a resposta direta do escritor.

Não gosto de falar muito sobre a história dos livros que leio, porque isso é o papel da orelha do livro. O que posso dizer sobre ele, sem estragar a graça da história, é que nos reconhecemos facilmente com os personagens. Não literalmente, claro, mas se pegarmos a essência deles, vemos o quanto são humanos em sua loucura. Seja o branca, que por ter sangue de negro – ou achar que tem, não se encaixa em lugar nenhum, e acaba cometendo atrocidades, seja o trabalhador, que se esconde no trabalho, com medo de ter relações pessoais, e com isso evitar problemas, seja o ex-pastor, que perdeu tudo por conta dos pecados da esposa que morreu, seja a jovem grávida, que percorre meio mundo atrás de uma ilusão.

Já haviam me falado que esse era o livro perfeito para entrar no universo de Faulkner. Concordo plenamente. É um livro bonito, divertido, e tem alguns personagens memoráveis. Se você nunca leu Faulkner, essa é a sua porta de entrada.

4 estrelas em 5.

8 Respostas para “Resenha – Luz em Agosto – William Faulkner

  1. Eu diria que Luz em Agosto é o mais maravilhoso livro de Faulkner. O Som e a Fúria é hors concours. Ainda tenho que ler Enquanto agonizo – que dizem ser muito bom – mas gostei muito desse livro e pretendo ler novamente…

    • Pois é Cris, O Som e a Fúria é a obra prima de Faulkner, mas esse é sim um livro muito bom e divertidíssimo de ler. Enquanto Agonizo será meu próximo Faaulkner, provavelmente.

      Abraço.

  2. Pingback: Beatriz & Virgílio – Yann Martell | Catálise Crítica

    • Mas sempre é tempo de se redimir, Liliane. E Luz em Agosto é um bom livro para começar.

      Obrigado pela visita e volte sempre ao blog!

  3. Finalmente li “Luz em Agosto”, queria ler com toda a calma do mundo, a cada capítulo que terminava pensava “meu Deus, isso é bom demais, quanto complicação, quanta coisa!”, importante dizer que tirei fotos de alguns trechos e anotei páginas que precisava reler “bem Itallo, nessa parte vc estava bem distraído, é preciso reler, as resposta estão nós mínimos detalhes”.
    E para finalizar como sempre Faulkner me fez sofrer, odiar e concordar com alguns personagens, e como eu sempre comento com qualquer pessoa as situações dos livros que leio, parecia um amalucado contado: “bem aí quando vc pensa que serto rapaz tinha feito por isso, depois de um bucado de páginas, numa frase ele pensa tal coisa… E tem um coitado que cuidou de uma menina(…) É do mesmo autor daquele livro do doidinho que só dá para entender as coisas depois” (rsrsrs)

    • Foi o texto mais belo que já li na vida. Poema e prosa se confundem. E as metáforas das quais ele se utiliza… Caramba!!! Preciso fazer a minha terceira leitura de Luz em Agosto 😀

      • Realmente o texto de Luz em agosto é primoroso, outra coisa que percebi é que a história é mais calma e possui uma “beleza intrínseca” nas situações, diferindo de “o som e a fúria” e “enquanto agonizo”; em que sim, o texto continua maravilhoso, mas as situações me causaram aflição, me senti aflito ao ler, sofrendo de mais, se bem que a história desses dois é mais pesada… O meu preferido de Faulkner ainda é “o som e a fúria”, talvez pelo desafio.

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