Os Vingadores (filme)

Por José Leonardo Ribeiro Nascimento

Gostei de Homem de Ferro e Homem de Ferro 2. Não vi o Hulk com Edward Norton. Não gostei de Thor. Detestei Capitão América. Ontem estava no cinema para ver Os Vingadores, que colocou finalmente esse povo todo junto.

Um dos meus receios era que o filme parecesse com Mortal Kombat (comparação injusta, sei), em que, tendo em vista o grande número de personagens e a falta de qualidade do roteiro, boa parte dos personagens aparecem na tela simplesmente para participar de uma luta, dizer algumas frases de efeito e pronto.

Outro grande questionamento vem do fato de eu me perguntar se seria crível colocar numa mesma equipe seres praticamente indestrutíveis, como Thor e Hulk, e “humanos bem treinados” como Gavião e a Viúva Negra.

Mesmo tendo tantas dúvidas, eu sabia que teria que ver o filme. Joguei muito RPG de super-heróis, na maior parte do tempo mestrando, e ver uma equipe de supers atuando em conjunto contra um mal comum é o sonho clichê de qualquer rpgista.

Vi o filme em 2D e dublado. Em 2D porque não acredito que num live-action a diferença seja tão grande (exceção seja feita a Hugo, como comentei aqui) e porque os óculos são um saco! Vi dublado porque fui com meu filho de 8 anos e queria que ele aproveitasse o filme ao máximo.

Depois de um começo meio protocolar, com Loki roubando o Tesseract, não sei exatamente quando, mas o meu lado chato foi desligado e imergi completamente no filme: eu estava num filme de super-heróis em que, não importa quão grave seja a situação, sempre há uma boa piadinha a ser feita, situações impossíveis acontecem e todos se sentem bem no limiar do perigo, além de outros clichês extremamente bem vindos.

Pensando bem, acho que sei o ponto preciso em que comecei a curtir o filme. Quando a Viúva Negra tenta persuadir Bruce Banner a ajudar Nick Fury e conta a ele sobre o Tesseract. Ele responde com uma das melhores e mais representativas piadas do filme, na minha opinião:

– O que ele quer que eu faça? Que eu engula o Tesseract?

Quando digo que essa piada é representativa é porque, tendo em vista como Hulk é visto por todos no filme, podemos mesmo imaginar que poderia até ser possível que se ele engolisse aquele treco ele conseguiria digeri-lo. O medo que o gigante verde desperta em todos e a certeza de que com ele do seu lado nada poderá derrotá-lo é impressionante. E aqui começo os elogios aos atores:

Mark Ruffalo está ótimo como Hulk. O jeito como ele fala baixinho, como sua figura praticamente se encolhe o tempo todo, é uma representação perfeita, apesar de caricata (e estamos num filme de super-heróis, as representações devem ser caricatas!). Dele é a melhor cena do filme, na minha opinião. Não, não é a cena com Loki. Antes um pouquinho, quando ele chega com uma motocicleta e revela o seu segredo. O que ele faz com logo depois, já como Hulk, provocou uma reação em mim que eu só lembro de ter sentido duas vezes no cinema: ao ver o segundo episódio de O Senhor dos Anéis, numa cena clássica em que Légolas sobe no cavalo de costas e pratica esqui com um escudo enquanto flecha uma dezena de orcs e muitos anos depois, em Tropa de Elite 2, quando o Capitão Nascimento faz um pouco de justiça com as próprias mãos numa blitz. Cinema é pra isso! Pra divertir!

Continuando o elogio aos atores, todos interpretam bem seus personagens, com o óbvio destaque para Robert Downey Jr. Samuel L. Jackson dá autoridade a Nick Fury e Phil transforma um cara que não tem super-poderes em um personagem que realmente importa. Os outros heróis, na minha opinião, estão no mesmo nível, talvez com Thor um pouco abaixo (Chris Hemsworth não consegue convencer quando precisa ser engraçado, por exemplo) e um Chris Evans pouquinho acima (isso porque no filme Capitão América tive uma péssima impressão não só dele, mas de todo o filme). Tom Hiddleston não tem carisma suficiente para ser um super-vilão, e seu Loki não demonstra toda a confusão mental que sabemos que ele tem.

Os Vingadores é provavelmente o filme de super-heróis mais divertido que já vi. Não é o melhor e não estou dizendo que não tem falhas. Apenas para citar dois pontos importantes em que o roteiro faz vista grossa: o modo como uma nave inimiga se aproxima da sede da SHIELD e faz o que faz sem que os sistemas de segurança percebam que tem algo errado (é inconcebível que a única coisa que eles façam seja perguntar pelo rádio o que eles vieram fazer; a SHIELD deveria ter o melhor sistema de segurança do mundo); a mudança abrupta no comportamento de Hulk. Na primeira cena que ele se transforma ele está incontrolável. Quando ele é necessário na batalha, ele se torna quase “dócil” e até mesmo demonstra algum senso de humor.

Isso, todavia, não atrapalha o filme. O roteiro, no geral, é muito bem construído, muito bem montado, dando vez e voz a todos os Vingadores. Cada um tem seu papel bem definido e até mesmo Phil se torna um personagem de verdade, como já comentei. A preparação do terreno para que eles possam atuar, as lutas entre eles e, em especial, a cena da batalha final mostra que cada um tem seu papel. Eu temia que na hora do vamos-ver Gavião Arqueiro, a Viúva-Negra e até Capitão América ficassem observando Thor, Hulk e Homem de Ferro se divertirem.

Um elemento-chave do filme é o humor, e cada um tem suas piadas: não vou falar de Robert Downey Jr., não é necessário. Não resisto. A piada que ele faz com Thor (“Sua mãe sabe que você está andando com a cortina dela amarrada no pescoço?”) é tudo que esperaríamos ler numa revista em quadrinhos. Phil com suas figurinhas, as brincadeiras sobre Banner/Hulk, e até o Capitão América (- Eles são deuses! – Que eu saiba, só há um Deus, e ele não se veste assim!) ajudam a deixar o filme sempre empolgante.

Os Vingadores mostra que é possível fazer um filme divertido, cheio de clichês, sem ofender a inteligência do espectador. Impossível ver um filme desses e não ter saudades dos tempos de Gurps Supers ou de Aberrant e dos Novas.

Minha Avaliação:

5 estrelas em 5.

6 Respostas para “Os Vingadores (filme)

  1. Leo, valeu a dica. Vou tentar agendar para ver com as crianças no próximo final de semana. Como sempre, sua análise circunstanciada (e sua crítica ponderada) ajudam muito a gerar uma boa expectativa sobre o filme. A reunião de vários super-heróis é uma catarse para todos que vivemos a infância ou adolescência nos anos 80. Espero uma ótima diversão com “Os Vingadores”.

  2. Obrigado pelo comentário, Bessa. Tenho quase certeza de que vocês vão gostar bastante do filme. Espero que tenham se divertido por aí. Bom retorno ao Brasil.

  3. Para quem curte cada um desses personagens como eu curto, o que mais gostei do filme foi o respeito as características que cada um possui no gibi. Eu finalmente estava vendo uma adaptação que respeitou a essência dos heróis.

    • Apesar de gostar muito de super-heróis, quando mais jovem não acompanhava revistas em quadrinhos da DC ou da Marvel, por absoluta falta de dinheiro. Depois desse filme, confesso que fiquei com vontade de comprar umas duas revistinhas para ver se André (meu filho) se interessa por outros quadrinhos que não Turma da Mônica.

  4. Vi o filme nesse final de semana e já entrei pensando que não iria gostar e que realmente veria apenas clichês. Não vou dizer que amei o filme, ele foi bem ok. Mas o humor superou totalmente minhas espectativas, amei todas as piadas!
    Parabéns pelo blog!

  5. Eu detestei HOMEM DE FERRO, mas, curiosamente, gostei muito (e me surpreendi bastante) com HOMEM DE FERRO 2. Não vi – nem quero – ainda O INCRÍVEL HULK (mas gosto do HULK destoante do Ang Lee), não tive oportunidades para conferir o que o outrora shakespeareano contumaz Kenneth Brannagh fez com seu THOR (apesar de estar com o filme em casa faz algum tempo) e até que gosto destes filmes baseados em super-heróis, mas deixarei para ver este exemplar tão elogiado depois que a poeira baixar… Assim, de supetão, continua sem me empolgar: falta de referências, acho. mas me emocionei ontem à noite, ao ver que minha mãe compreendia o subtexto discursivo de X-MEN – O FILME na TV… (WPC>)

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